Superação
Olá!
Sempre gostei de ler histórias de superação porque me ajudam a ter mais esperança de que as pessoas possam ser melhores e ter fé de que teremos dias melhores. Mas essa história chamou demais a minha atenção, porque através dela nós podemos tirar muitas lições e tomar cuidados com muitos alertas.
Sempre gostei de ler histórias de superação porque me ajudam a ter mais esperança de que as pessoas possam ser melhores e ter fé de que teremos dias melhores. Mas essa história chamou demais a minha atenção, porque através dela nós podemos tirar muitas lições e tomar cuidados com muitos alertas.
É a história de Luciana Scotti.
"Eu era uma jovem bastante normal. Pertencia a
uma família de classe média e era uma garota bonita. Aos 17 anos, passei em
cinco vestibulares e comecei a cursar Farmácia e Bioquímica na Universidade de
São Paulo (USP). No fim do primeiro ano da faculdade, ganhei minha primeira
paixão: um carro vermelho, lindo!Uma surpresa inesquecível, presente de
aniversário do meu pai, que se tornou meu companheiro no início dos anos 90.
Nesse mesmo período, conheci o Lucas, um judeu loirinho e simpático, formado em
engenharia pela USP. Minhas amigas comentavam a diferença entre nós. Lucas era
tido como feio e nerd, eu era popular. Mas, não ligava.Ele foi um
grande amor, mas assim como água e óleo não se misturam, percebi logo que com
judeus e católicos o mesmo pode acontecer. Ficamos três anos juntos, mas os
pais do Lucas nunca me aceitaram. Nosso amor, entretanto, parecia maior que
isso. Em 1991, passei a tomar pílulas anticoncepcionais com a orientação da
minha médica ginecologista. Falei a ela que eu era fumante, mas naquele
momento, não percebemos o risco que eu corria.
No
mesmo ano, resolvi começar a trabalhar. Transferi o curso de farmácia para o
período noturno e arrumei um emprego em uma empresa de higiene bucal, em que
fui efetivada. Todos os dias, cruzava a cidade com meu carro para trabalhar e
estudar. E ainda arrumava tempo para correr pela USP nos fins de tarde e fazer
aulas de ginástica aeróbica e musculação. Aos fins de semana, eu fazia passeios
românticos com meu namorado ou saía com minha turma de amigos. Gostava de
dançar, viajar, beber, conversar, fazia tudo o que me dava vontade.
Em meados de
1993, comecei a ter dores de cabeça que, apesar de desaparecerem com aspirinas,
estavam ficando cada vez mais frequentes. Decidi marcar uma consulta com a ginecologista, queixei-me das dores,
mas ela disse que não era nada grave. Passei um ano com o problema. E, num
domingo, dia 1 de maio de 1994, vi o Ayrton Senna morrer. A data me marcou
demais. Não que eu imaginasse que, no dia seguinte, seria eu a próxima vítima –
de um tipo diferente de morte, mas morte. Na segunda, acordei, me vesti e fui
trabalhar. Trabalhei o dia todo, não senti nada de anormal. No fim da tarde,
fui buscar meu irmão na USP, para irmos para casa. Quando chegamos, me apressei
em ir até o banheiro para escovar os dentes. Na sequência, iria ao shopping.
Mas antes de sair
do banheiro, senti uma forte tontura e gritei por socorro.
Quase
imediatamente entrei em convulsão. É uma sensação horrível! Tentava controlar
meus movimentos, mas os músculos não paravam de tremer. Minha família ficou
apavorada. Meu pai massageava meu coração. Meu irmão cuidava para eu não morder
a língua, colocando uma escova de dente na minha boca. Enquanto isso, minha mãe
ligava para o resgate. Alguns vizinhos ouviram a confusão e vieram ajudar. Me
pegaram no colo e me colocaram num carro. São mais que vizinhos, são queridos
amigos de quem até hoje recebo muito carinho e apoio. Quase não conseguia falar
e, naquela confusão, não sabia se minha família viria atrás do carro ou não.
Fui para o pronto-socorro Municipal de Santana. No caminho, pedia calma com a
mão, não tinha a mínima ideia do que estava por vir.
Agora entendo
porque, em um pronto-socorro municipal, cuja fila é enorme, fui atendida logo.
Colocaram-me em uma maca e levaram-me direto para a consulta. Na sala do
médico, havia algumas enfermeiras que delicadamente tiraram meu relógio,
gargantilha e brincos. Precisavam ser delicadas para eu não me machucar, pois
meu corpo trepidava. Minha família me achou no pronto-socorro, depois de
percorrer todos os hospitais da região. Ao lado da maca, minha mãe segurava a minha mão, e eu me perguntava quem
seria aquela pessoa. De olhos
fechados e com muito esforço, só conseguia falar mamãe e papai. Ironicamente,
as primeiras palavras que aprendi seriam as últimas que eu diria.
Inconscientemente, eu dava adeus aos meus longos cabelos aloirados,
aos meus passos, à minha voz (que nunca mais ninguém ouvirá), aos movimentos,
às danças nas festas, ao meu querido carrinho e a mais um milhão de coisas. Fui
transferida de ambulância para um hospital particular. Apenas meu pai me
auxiliava, com um balão de oxigênio. Era difícil de respirar.
No novo
hospital, um enfermeiro me pôs em uma maca. Levaram-me para um quarto. Tiraram
minha roupa e me vestiram com um daqueles camisolões de hospital. A convulsão
continuava. Lembro-me dos médicos ficarem discutindo o diagnóstico em volta da
cama. Fui ficando atordoada, senti um mal-estar repentino e vomitei.Uma enfermeira que me acompanhava falou para o
colega dela: “Ela não passa desta noite”. Depois dessa frase, já não lembro de nada. Entrei em coma. Durante
esse período, não tinha consciência de onde estava, tudo parecia um sonho.
Acordei dois meses depois, em outro hospital, careca, muda, tetraplégica, com
sonda nasogástrica, fraldas e cicatrizes. Quando saí do coma, achei que tudo só
podia ser um pesadelo. Longo e cheio de detalhes, mas um pesadelo. Podia jurar
que não tinha estado em coma, mas na minha cama, dormindo.
A verdade, no
entanto, era outra. Sofri um
Acidente Vascular Cerebral e minha nova realidade era aquela: feia, muda e sem
movimentos.Lembrava da
última vez que tinha me visto no espelho antes do AVC e sentia desespero.
Saudade, tristeza, abandono... senti tudo, principalmente revolta e ódio. A
combinação do cigarro com anticoncepcional aumenta muito o risco de a mulher
sofrer um AVC e eu e minha ginecologista deveríamos ter percebido isso. Alguns
especialistas me disseram que a pílula foi 100% responsável pela trombose que
levou ao rompimento de uma das veias do meu cérebro. Outros acham que não foi o
fator principal. Porém, a mistura da pílula com o cigarro deveria ter sido
evitada e eu deveria ter dado atenção às dores de cabeça que não passavam. Se
tivesse agido de outra forma, hoje estaria andando.
Depois da
Trombose Cerebral e de ter ficado tetraplégica, vivi três anos sobre uma cama
hospitalar. Durante
esse período, observei quase todo mundo se afastando de mim. Lentamente, fui esquecida pelos meus 150 “queridos
amigos”. Cada um
que me deixou, me preencheu com uma mágoa eterna. O Lucas foi um deles. Ele foi
diminuindo a frequência das visitas, até parar de me ver. Chorei, revivi todo
meu passado, procurei culpas e culpados e pensei: morri, acabou tudo!
O que eu não
sabia é que, na verdade, estava começando uma segunda vida. Não tinha saída. Eu poderia chorar a vida inteira
pelo romance acabado e pela tetraplegia ou parar de chorar e começar a viver.
Optei por viver: aos trancos, aos farrapos, aos pedaços. Mas o tempo tem uma força estranha, e com ele
comecei a escrever meus pensamentos amargurados com o movimento de um único
dedo, o médio da mão esquerda. Em um notebook, digitava no meu colo, na cama. No começo, cheguei a
passar um dia para completar uma página. Depois de quase um ano de esforço,
terminei meu primeiro livro: Sem Asas ao Amanhecer. Hoje, ele está na décima
primeira edição. Mas não me contentei. Escrevi outro chamado A Doce Sinfonia de
Seu Silêncio.
Como sou muito
ativa e odeio ficar parada, voltei a estudar. Fiz mestrado e publiquei um livro científico sobre cosméticos. Em
2006, terminei o doutorado. Depois, fiz três anos de pós-doutorado, sempre na
USP, e ganhei vários prêmios acadêmicos. Também aprendi sozinha inglês,
italiano e espanhol. Há três anos me mudei para João Pessoa. Meu irmão passou
em um concurso e começou a trabalhar na Universidade Federal daqui. Em pouco
tempo, estávamos todos juntos. Logo procurei um modo de contribuir com a
instituição. Estou no
segundo ano de um novo pós-doutorado, já participei de mais de 30 congressos,
tenho artigos publicados no exterior e sou revisora de revistas científicas.
Me sustento com
o dinheiro do meu trabalho e levo uma vida confortável. Contrato pessoas que me
auxiliam nas tarefas diárias. Preciso de tudo: de um copo de água, de um banho,
que me tirem e ponham na cama. É assim que vive uma mulher que mexe só um dedo.
Uma vida nada fácil, mas é a única que eu tenho; e a vida não é como queremos,
é como é. E, mesmo com
essa limitação, me considero feliz. Amo o que faço. Uso estatística e química para analisar estruturas
moleculares. Quando estou trabalhando, me sinto muito bem.
Durmo tarde,
23h, 24h, 1h. Dependendo do trabalho, acordo cedo, 6h ou 7h. E já coloco o
biquíni! No meu prédio
tem um espaço legal para tomar sol e eu aproveito o solzinho da manhã que é uma
delícia. Tomo na minha cadeira-de-rodas “de sol”. Tenho três cadeiras:uma
levinha, muito usada para banhos de sol, viagens e passeios em geral; uma mais
alta e mais pesada, que uso para trabalhar no computador e uma motorizada,
muito confortável. Depois do sol, tomo banho, vou para o computador e trabalho
até a noite. Faço uma pausa para malhar e me alongar (montei uma miniacademia
no meu quarto) e volto para o trabalho.
Adoro um
churrasco com os amigos à beira da piscina ou passar o dia na praia. Apesar da
dependência física, tenho pensamentos e emoções próprias, como todo mundo. Às
vezes, rola uma paquera no shopping ou em uma praia, mas o mais frequente é
pela internet, porque a web é meu modo de fazer laços sociais. Ao mesmo tempo,
desenvolvi a sensibilidade de entender nas entrelinhas e distinguir uma paquera
de armadilhas. Se vejo que é sério, engato um namoro. Até noiva já fui duas vezes: por dois anos, do
Mateus, e quase sete, do Fabrizio. Quando falo isso, as pessoas se perguntam sobre o sexo. É normal, já
que não sou uma pessoa comum. Mas sou mulher e tenho relações como qualquer outra. Aprendi a dar e receber carinho e prazer.
Se você pensar
que eu me comunicava piscando e hoje escrevo num teclado normal, acho que estou
bem. Apesar dos meus
limites físicos, produzo trabalhos de qualidade, reconhecidos e até invejados
dentro da comunidade científica. Infelizmente, não posso prestar concurso na faculdade, porque não
falo. Esse é meu sonho, ter um emprego na faculdade. Sei que não tenho condições
de dar aulas, mas as faculdades deviam ter vagas para pesquisadores. É o meu
sonho. Aprendi que
nessa vida o que importa é ser feliz. Se eu encontro momentos prazerosos com minhas dificuldades, muita
gente sã e cheia de dinheiro pode não encontrar. O que ontem era indispensável
para mim, hoje é fútil. Ser feliz tornou-se ao mesmo tempo algo muito mais simples e complexo."
Depois de ler sobre essa história de grande superação, lembrei-me dessa figura que amo e demonstra o quanto de potencial existe dentro de nós, mas que somente com o tempo, com as dificuldades e com muita reflexão sobre nossa vida, nossas escolhas, nossas atitudes, poderemos compreender de que material nós somos feitos.
Um beijo a todas as minhas borboletas!
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